3.01. - INTRODUÇÃO

Não há uma classificação linear de minhas obras pois cada uma tem sua individualidade; terminadas ganham vida própria, Barroco/Onírico/Americano, Contemporâneo. […] “A escultura não representa o objeto; ela o reproduz numa matéria diferente e o transpõe para uma dimensão metafísica: a alegoria …” Giulio Carlo Argan. Continuo elaborando minha atitude: “As esculturas são signos, e não símbolos pois envolvem sempre a necessidade de uma interpretação”. The Forest of Symbols – Victor Turner .
E finalizo com o poeta Ferreira Gullar: “A Arte existe porque a vida não basta”



3.02. - CAPITU

foto Pedro Amora
Escultura - 0.32 x 0.25

Materiais: Uma prosaica jarra de louça branca, com uma forma parecida com um “jogo de cintura”, trouxe “minha” Capitu. Então, objetos que estavam ao alcance de minhas mãos e dos meus olhos, foram se ajustando: forma oval de vidro; flor e echarpe de tecido aramado; colagem de retalhos de renda; um pedaço da cauda de uma raposa, que serviu perfeitamente como estola de pele e, finalmente, aquele olhar…  

Personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, (publicado em 1899 pela Livraria Garnier – Rio de Janeiro) impressionou a todos que o leem. Seu olhar de ressaca,- imagem que se refere à ressaca do mar, quando as ondas se avolumam e invadem; olhar incerto, desconfiado, envolvente, sempre sedutor, ambíguo. Jamais se chega à conclusão de que ela levasse à cabo suas intenções, ou mesmo se ela as haveria: teria mesmo Capitu traído seu marido, Bento Santiago, o Bentinho?  Imaginação, sonhos, curiosidade e prazer, na leitura de Machado. Na minha opinião, um problema moral insolúvel.

 


3.03. - OBÁ- YIABÁ

Escultura 1.90 x 0.90
Foto Pedro Amora

Os Yiabás são quase todos Orixás das águas e em geral gozam de grande popularidade entre as gentes do Candomblé. Na minha visão onírica, Obá é cheia de cores e penas que esvoaçam ao seu redor. Fixada em suporte de madeira, o que dá volume ao corpo é tela de metal. Cocar de penas de arara azul – (encontrada por mim em um brechó), serve-lhe de gola. Uma folha de palmeira imperial com um natural movimento é a cauda da vestimenta. Em volta do pescoço, um colar de pedras azuis, de origem africana. Sua cabeça é feita de tela de metal, coberta por renda preta, francesa. Os seios, duas garras de coqueiro, pintadas. Só tem um brinco, pois enganada por Iansã, cortou, cozinhou e comeu uma das orelhas, por amor a Xangô. À guisa de consolo, fiz para Obá um Muiraquitã, pendente com um lindo inseto verde, colado em uma lente. Lembrança de Macunaíma.



3.04. - OSSÃE – Amiga Folhagem ou OSSAIN – Deus das Folhas

Escultura – 1.90 x 1.10

Foto Pedro Amora

Materiais: estrutura de madeira e bambu; pés de antiga raiz de árvore; volume do corpo dado com tela de metal. Roupagem: seda pintada com pássaros e folhagens; colagem com plumas variadas; os enfeites da roupa são pequenos insetos como cigarras, besouros e cigarrinhas – devidamente tratados – recolhidos, já mortos na Mata Atlântica, onde fica meu atelier. Suas cores são verde e rosa. Um grande pássaro de beleza onírica a coroa.

Caipora ou Caapora, no folclore brasileiro, em todas as versões, é um ente protetor dos animais e das matas. Encarnação do mato; qualquer ente fabuloso que habite a floresta.
Geografia dos Mitos Brasileiros – Luiz da Câmara Cascudo
Editora Global 2002



3.06.- CHICA DA SILVA

Escultura – 0.70 x 0.30
Foto Pedro Amora

“Que andor se atavia
naquela varanda?
É a Chica da Silva
A Chica-que-manda

Cecília Meireles – 1901- 1964
“Romanceiro da Inconfidência” Rio de Janeiro; Editora Nova Fronteira 1984

Como não obedecer a Chica que manda? Como chegar a um consenso: personagem/rainha e artista/criadora? Então, a coloquei sobre uma base de madeira torneada, dourada, com desenhos soltos, flutuantes – peixes… nuvens…folhas? Cores entre preto, ouro, cobre, prata. Cabeça feita em papier mâcher; rosto escuro como a noite, colagens de retalhos de antigo tecido Dèco, olhos sérios, pensativos, espertos. Envolvendo seu pescoço, echarpe de seda e grande flor de tecido aramado; na cabeça turbante com plumas e penas. Muitas “joias”, muitos brilhos … Chica era vaidosa; penso que concordaria com minha maneira de imagina-la.



3.07.- LUCY IN THE SKY WITH DIAMONDS

Signo da “contracultura”
Escultura 0.60 x 0.40

Materiais
Antiga e romântica estatueta de jardim feita em cimento e por mim restaurada. Ganhou roupas de renda e belos tecidos; um olhar mais que sonhador e muitos “diamantes” esvoaçantes.

Tornou-se através da música de John Lennon, na minha visão, uma das musas da contracultura dos anos 60/ 70 quando se colocou em debate o uso de alucinógenos, a psicanálise, o movimento da antipsiquiatria, a contracultura, vários circuitos alternativos etc.




3.08.- COGUMELO ALUCINÓGENO

Escultura 031 x 018

Materiais
Um vaso “Murano”, que minha imaginação trouxe da Itália para Minas Gerais, acompanha Lucy na sua “viagem”. Completa o trabalho: tecidos arames e contas.

Novamente a contracultura dos anos 60/70; nas minhas leituras sobre expansão da consciência, minha vivência cultural me leva a F. Capra, a Carlos Castanheda e aos trabalhos do doutor Laing. Esta ambiência cultural, tive acesso através do meu, então namorado, Mario Carneiro, excelente fotógrafo de cinema; relação que me fez estabelecer rumos mais convergentes e já um comportamento que mais tarde avaliei como autodidata. Nesta época, participai do filme “Macunaíma” dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Por este papel como atriz coadjuvante ganhei o prêmio Govenador do Estado de São Paulo. Reconhecida pelo prêmio, pensei prosseguir neste caminho; mas minha carreira foi interrompida, como sempre, pelo chamado das Artes Plásticas.



3.09.- NAMORADA DE ULYSSES

Foto Pedro Amora
Pequena escultura- fruto de “garimpo”
037 x 027

Não uma perigosa sereia de voz maviosa, puxando, quem por desventura a ouvisse, para as profundezas do mar, mas uma gentil ninfa, figurinha de moça em bronze, pousada em um caramujo, deliciando-se nas frescas águas de uma cachoeira depois do encontro com o amado. Dois cavalos de renda, os colei na concha. A “onda” é de opaline.



3.10.- OS GÊMEOS

Escultura em madeira
0.97 x 0.63
Materiais - madeira, verniz protetor, tinta.

Tantas árvores tem, nossa Mata Atlântica “de bolso”, toda aqui no nosso quintal! Nela encontrei o tronco de madeira de lei, e em meu sonho em vigília, nele, vi minha escultura “Os Gêmeos”. O elemento de ligação entre o sonho e a madeira, foi a arte de Brancusi, que iniciou Modigliani na arte da Africa negra, experiência que depois de alguns ensaios, o pintor transpõe para a pintura.
Ser mãe, e mãe de gêmeos, é uma vivência notável, infinita; e a madeira concordou. Sempre que vou ao Hotel Aldeia de Sahy, vejo minha obra.
Homenagem a Brancusi e aos meus gêmeos, Tomás e Gianpaola Whitaker Guidotti.



3.11.- MADAME MODIGLIANI

Foto Pedro Amora
Escultura 090 x 030

Homenagem a Jeanne Hebuterne e Amedeo Modigliani

Materiais:
Peça de porcelana e metal, de postes de eletricidade; rosto muito branco, papel machê sobre isopor. Monóculo, enfeite de cabeça em tecido e aramado, lenço de seda no pescoço preso por uma de minhas jóias com pedras brasileiras. A. Modigliani, o pintor, interpretava com refinamento os personagens do mundo artístico parisiense; mais que retratos são composições poéticas de extrema elegância; e assim concebi Jeanne Hebuterne.



3.12.- PEIXE ABISSAL

Foto Pedro Amora
Escultura 090 x 015

Era só um pedaço de madeira com restos de tinta que sobrava da construção; um pedreiro resolveu descansar, martelando nela, alguns pregos. Quando largou, peguei a madeira, entremeei com linhas os pregos, fiz colagens, pinturas, tecidos e com lasca de lâmina de madeira, prateada, fiz vir à tona meu peixe Abissal. Colei num pedaço de dormente que está apoiado e seguro numa base de ferro.



3.13.- LAGARTO COM SEUS ADEREÇOS

Foto Pedro Amora
Escultura 045 x 090 -

Materiais
Tudo começou com um nó; um cipó velho retorcido, mas de algum jeito, o lagarto já estava lá; e apareceu, com olhos ternos de contas de vidro, focinho de tecido de metal, algumas penas e passamanarias. Sem susto ajeitou-se na base de madeira antiga apoiado em segmento de escultura em bronze. Abanou seu rabo de tecido e quedou-se quieto olhando a vida.



3.14.- DRAGÃO

Materiais: Sobre dormentes de madeira de lei, repousa o Dragão. Criado, a partir de uma raiz coletada em um mangue. Extremamente rico em detalhes, cores, conchas, tecidos, garras de madrepérola, olhos de antiga bijuteria, metal e ágata… Quase impossível tentar descrever este ser fantástico; mas o Dragão está lá; quieto mas cheio de vida. Este é o mundo do artista; meu mundo. Tenho o poder de cria-lo e destruí-lo; mas a vida dele, só posso senti-la. Pablo Neruda poetiza meu Dragão, uma raiz de mangue:

“São esculturas da profundidade, obras primas e secretas da natureza”
Pablo Neruda – “Confesso que vivi – Memórias” Difel – difusão editorial 1974



3.15.- PEIXE VOADOR

foto Pedro Amora
Escultura 0.30 x 0.80

Materiais
Madeira encontrada em andanças na praia; tecidos, tinta acrílica; cacos de antigo potinho chinês; pedaços de conchas e madrepérolas; passamanarias; olhos de turquesa brasileira. Meu PEIXE VOADOR, pousado em base de cerâmica esmaltada, com conchas, sobre rocha calcária, levemente pintada em verde. Lembrança do mar.



3.16.- SIRI

foto Luca B. de Mello

Escultura 0.45 x 0.60

Materiais:
Criação através de coleta de galhos e pinças de coqueiro; tecidos pintados e colados; olhos de vidro pintados; muitas contas cerdes e alguns cristais. Está apoiado em cama de mica colocada entre dois vidros, sobre base de dormentes



3.17.- LAGOSTA ARCAICA AGARRADA EM CARAMUJO

Foto Pedro Amora
Escultura 0.30 x 0.55

Materiais: sobre uma base de vidro – usado em postes de eletricidade, a lagosta – raiz pintada – usa suas patas de tecido e madeira para se agarrar a um caramujo. Tecido aramado e vidro fazem a cauda; os olhos são conchas.



3.18.- ABELHA NA FRUTA

foto Pedro Amora
Escultura 0.40 x 0.55

Materiais – Sobre cabaça pintada, pousa a Abelha. Ela se agarra à fruta com suas patas de renda francesa. Olhos e corpo de tela fina de metal pintados; asas de grandes conchas e tecidos aramados. Alguns vidrilhos completam.



3.19.- GUERREIRO DA TRIBO DO RIO OMO

Foto Pedro Amora
Escultura 0.55 x 0.40

Criado através do trabalho fotográfico do artista Hans Silvester.

Materiais: vaso de barro pintado; peça de vidro de poste de eletricidade; uma enorme semente da qual desconheço a origem, pois me foi presenteada; folha de Embaúba seca; tecidos, pinturas no rosto do guerreiro; colar de cerâmica artesanal africano; casca de árvore, encontrada no gramado de um parque; cipó da mata. Há também meia asa de mariposa que a natureza me deu de presente.



3.20.- MILPERNAS

Foto Pedro Amora
Escultura – 1,06 x 0.30

Materiais – Criada a partir de uma lasca da árvore chamada Jacaré, pois tem escamas como o bicho. A madeira está tratada, pintada e com colagens de tecido. Arredondando seu corpo, uma larga mola de plástico amarela; olhos de abalone; as pernas – muitas são fios de fibra natural, pintadas de preto.



3.21.- PICA PAU FAZENDO NINHO EM OCO DE MADEIRA

Foto Pedro Amora
Escultura – 0.72

Materiais – dormente de madeira de lei colocado inclinado sobre outro; galho pintado; fios de eletricidade; cabeça de semente chamada “pente de macaco”, apoiada em pequena cabaça; olhos de contas; bico de escama de peixe. Completando o conjunto, à guisa de asas, folha desidratada



3.22.- PAPA INSETO E SEU LEQUE

foto Pedro Amora

Escultura – 0.40 x 0.55
O papa-inseto, comprei-o em uma feirinha. Adquiriu, com meu trabalho uma certa “realeza oriental”, com tecidos, cacos de conchas, madrepérolas, uma enorme e faminta língua e asas de delicado leque. Está pousado em cabaça pintada e com colagens. O inseto que almeja, tem corpo de prata, asas de plumas e rendas e cabeça de pedra preciosa brasileira. Uma de minhas jóias.



3.23.- ESPERANÇA DE VIDA – a era dos conflitos

Foto Pedro Amora Escultura – 0.60 x 0.45

Representação do que seria o sonho da Paz, em plena guerra

Materiais
A base é um verdadeiro obus (capsula de canhão) da 1ª Guerra Mundial. Comovente pois está trabalhado com flores e o metal é delicadamente ondeado. Esta peça original é datada 1918 e esse tipo de arte é chamado arte de trincheira. Um duro leque de metal, o enfeita. Outro leque, este quebrado e como que manchado de sangue; rendas rasgadas, capsulas vazias penduradas; uma triste flor que deveria estar nos cabelos de uma alegre Carmen. Há também olhos que choram.
Esta é minha homenagem aos mortos de todas as guerras, e aos que a elas sobreviveram



3.24.- ORQUÍDEA EXTRATERRESTRE

foto R. Brandão.

Escultura – Quase um conto infantil. 0.95 x 0.25

Como sabem, quase todos os vegetais, árvores, flores, frutos coisas ótimas e algumas vezes nem tanto são plantadas também pelos pássaros: comem e rapidinho plantam, já com o devido adubo.
Bom, fico pensando qual pássaro teria plantado esta Orquídea; e de que planeta teria vindo? Talvez tivesse pegado carona num desses voos espaciais, sem que nenhum astronauta percebesse, pois pássaros intergalácticos se fazem transparentes. Só o coraçãozinho pulsa mas todo mundo confunde com vaga-lume. Seja como for, aí está minha Orquídea muito bem plantada sobre um pedaço de dormente no tempo.
Foi um prazer vê-la crescer: primeiro, uma base verde que se tornou dura como vidro; em seguida, uma bolha que também endureceu; veio então a flor, linda, perfumada mas que também endurecia; provavelmente em contato com nossa atmosfera. Quando, à noite eu vir algum vaga-lume, vou torcer para que seja um pássaro extraterrestre e adube bem meu jardim.



3.25 – GAVIÃO CAINTURA

foto P.A
Escultura 0.95 x 0.85.

Materiais
No Romançal de Suassuna, quem o lê vai sendo envolvido pela aridez do sertão da Paraíba; pelas lutas oligárquicas, pelo amor profundo que todos têm por aquelas terras, por razões diferentes, vida e morte.
O gavião Caintura, tive de representa-lo assim: galhos pontiagudos servindo de asas e corpo que espreitam atentamente e sem nenhuma piedade, colagens de tecido, pintura, bico de cobre…
Mas, como em tudo da Natureza, se vê Beleza, assim é o gavião que faz parte da Morte Caetana.



3.27.- SURUCUCU DE FOGO

foto - Pedro Amora
Escultura – 1.60 x 0.60

Material
Lâmina de madeira, pintura ou com tecidos colados, entrelaçadas em um tripé de bambu e apoiado em cipós da Mata Atlântica, encontradas caídos de árvores. O corpo da serpente é uma rede de plástico pintado e trabalhado com vários tecidos colados e pintados. A “cabeleira” é de folhas de “costela de Adão” secas, olhos são sementes e dentes de osso de peixe.
Assusta a “minha Surucucu”, mas ao mesmo tempo, como toda a serpente, atrai.



3.28.- A DAMA E O SEDUTOR

foto Pedro Amora
Pequena escultura, com humor 0.30 x 0.26

Materiais

Um pedaço de madeira, forrado como tapete; sobre ela, um pedaço de dormente, pintado, e enfeitado com alguns cacos preciosos. Sobre este, a “Dama”, verdadeira representante de família tradicional, toda trêmula, cheia de dúvida mas bastante inclinada a um- “Sim”!
È feita de conchas, ossos de peixe; tecidos; cerâmicas. Abaixo, no “tapete”, o “Sedutor”, novo rico, cheio de paixão, oferece flores e um anelão de diamantes para sua amada.
Cara de concha; garras de sirí; um casacão vermelho com debrus turquesa; rabo de osso de peixe, pintado e com pedrarias, sapatos vermelhos… Este amor pode dar certo.



3.29.- CASAL FOFOQUEIRO SAINDO DA MISSA DAS 10 (horário nobre)

Pequena escultura, com humor 0.30 x 0.26

Materiais

Ela, com roupa domingueira, mantilha de renda; muita pedraria, muitas cores. Da missa, pouco escutou, ficando somente naquela ajoelha, senta, em pé, enquanto os olhos não perdiam nenhum detalhe do redor.
Na saída, fofocava com seu marido, baixinho e míope, com óculos de grossos cristais. Sobre placa de vidro pintado, o casal tem corpos feito de cabaça.



3.30.- PRIMEIRO BAILE- LEMBRANÇAS

Foto Pedro Amora.
Escultura 0.60 x 0.45

Materiais
Leque de menina / moça, ansiosa e feliz. Acabou de voltar do baile e distraída, colocou o leque em uma jarra anos 50, junto com uma flor, já seca, mas que guardou no seu estigma uma gota de cristal, congelada no tempo. No leque muito antigo pintado à mão com anjos, as rendas estavam danificadas. A solução para substitui-las foi encontrada na natureza através da delicadeza de folhas desidratadas.



3.31.- LEQUE BARROCO COM ANJOS E PÁSSARO MENSAGEIRO

Escultura 0.35 x 0.45

Materiais

Este leque tem pelo menos 100 anos e, certamente, muita história. Pintado à mão pela Sra. Risoleta Marcondes Machado, o que atesta o lindo monograma em metal, na parte rígida do leque, que aliás, é de tartaruga, (naquele tempo podia; hoje seria substituído por plástico, se alguém ainda usasse, leques, ainda mais com anjos pintados).
Fiz o que pude para conservá-lo, entremeei-o com rendas; uma base de metal, Art Nouveau, segura gentilmente o leque aberto.
O pássaro, bem quando vi, ele já estava lá, com muda mas eloquente mensagem. Os materiais do pássaro: osso de peixe; 2 contas de pedras brasileiras; penas encontradas na natureza ou que me foram dadas como a bela “aigrette” (pluma) negra.



3.32 – FLOR SENSUAL

Foto Pedro Amora
Escultura 0.45 x 0.30

Materiais
Vaso de cerâmica; tecido de palha; tela de metal; plumas e penas.
Trata-se de uma autêntica flor sensual, como aliás, quase todas as flores, especialmente as orquídeas.

Se, por anos e anos e ainda hoje, em muitos lugares do mundo, a sensualidade é moralmente discriminada, reprimida e agredida; (chegam a esconder as mulheres, vestindo-as da cabeça aos pés, deixando de fora, somente os olhos ). Então, a Mãe Natureza disse- “Ah é? Pois todos meus seres mostrarão sua sensualidade; e mais ainda, as flores, nas formas e nos perfumes.”
E me digam, quem pode discutir com a Mãe Natureza nos signos?
Vaso se cerâmica; tecido de palha; tela de metal; plumas e penas.



3.33.- CACATUA EM POLEIRO DEPOIS DA CHUVA

Esculturas 0.54 x 0.45

Materiais

O pássaro é do Zé Lateiro. Estava enferrujado e avariado. Restaurei-o pintei, pus olhos de contas e crista de madrepérola. Pousa num poleiro de ferro bem antigo, que servia de toalheiro.
As folhas naturais desidratadas.



3.34.- PÁSSARO BORBOLETA

Escultura – Móbile 0.60 x 0.60

Materiais
Tecido aramado; colagens; penas; aigrette negra; ferro ondeado de uma engrenagem; tela de metal; contas.

Quantas aventuras viveu este pássaro viajante!

Do Brasil foi à Londres, certo de pousar na casa da Alice no país das maravilhas; não encontrou pouso. Foi então para a caverna onde mora o Mago Merlin, que se agradou muito dele, mas queria prendê-lo num poleiro mágico; fugiu outra vez o Pássaro Borboleta.
Peter Pan queria leva-lo à Terra do Nunca. Isso nunca, pensou o Pássaro. E mais uma vez voou, indo descansar na vitrine de uma galeria de arte, bem no coração de Londres. Por lá, passou a Rainha e disse Oh! Por lá passou o príncipe e disse Hummm; muitas pessoas passaram e só ficavam de boca aberta, se perguntando: “É um Pássaro ou uma Borboleta?”
Aborreceu-se o lindo Pássaro e voou de volta ao Brasil, percebendo que nascera na verdadeira Terra das Maravilhas.



3.35.- QUADRO PARA UM LAGARTO QUE OBSERVA

foto Pedro Amora
Escultura 0.95 x 0.85
Materiais: Moldura de dormentes: madeira antiga; tão antiga quanto o espelho pintado com rosas. O lagarto, encontrei-o meio desconjuntado, numa feirinha; mas mostrava a arte delicada de quem o fizera, assim como o espelho pintado com rosas; delicadezas de outras mãos, de outros tempos, que só tive o trabalho de reconstruir, restaurando cuidadosamente todo o conjunto e dando ao lagarto um colorido corpo com tecidos. Como prêmio pelos cuidados, um besouro verde, verdadeira esmeralda que achei na mata, completa meu trabalho.



3.36.- NAS ERAS IMAGINÁRIAS

Foto Pedro Amora

Materiais: espelho de três faces com pinturas; um caco de vidro convexo, abriga pequeno Basilisco emplumado, feito de pedaço de madeira, enrolado em linha grossa e pintado. “Como todos sabem, Basiliscos são seres perigosos e tão raros que só nascem em ovo de galo negro, muito velho.”

Sergio Buarque de Holanda, descreve o Paraíso, pelo olhar da América lusitana; do Paraíso hispano americano, é Lezama Lima, em seu “Paradiso”, 1968. Quem escreve a contracapa é Julio Cortázar, já citado no item 1. Mas, ledora que sou do escritor uruguaio, Eduardo Galeano, retomo a questão da conceituação de minha arte Barroca/Onírica, no artigo de uma já antiga revista, “El Viejo Topo” -1980 –Barcelona – citando o novelista cubano, Alejo Carpentier – “ o barroco resulta de uma mescla de estilos e de culturas que regenera em nossas terras o “real maravilhoso” e tem um sentido original e vital, completamente alheio à observação colonial que sempre nos petrificou na paisagem exótica e nas imagens de exportação”. Na obra de Carpentier, o estilo que chama barroco, designa a realidade e a redescobre. A complexidade do estilo, corresponde exatamente à complexidade do mundo que expressa.



3.37.- ESPELHO MÁGICO

foto Pedro Amora
Escultura

Materiais: Sobre madeira de dormente, antiga fechadura de porta, em bronze; pedras da Lua; vidros “murano”; duas flores de prata; pedaço de prendedor de cortina antigo, de latão; pequeno espelho: (totalmente mágico) !
“Espelho, espelho meu, venha do espaço profundo, e diga se há no mundo, alguém mais bela que eu?”
“Ô Dona Rainha, há sim, viu? E digo mais: não é só a Branca de Neve; há morenas, pretas, há orientais, índias… um sem fim de gente bonita! Você tem um reino inteiro para governar; há súditos precisando de casas, alimentos, medicina! Há crianças sem escolas… tanto por fazer! E Vossa Alteza fica aí na minha frente: -Sou bonita? A mais linda do mundo? Ora!! Vá trabalhar! E pare de cansar minha beleza!”



3.38.- MARLIM AZUL

Foto Pedro Amora
Escultura móbile 1.40 x 1.00

Uma visão cubana lembrando “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway.
Materiais: sobre base de bambu: plásticos; papéis pintados; tecidos; fios prateados de antena; cristais; olhos de abalone…

Meu Marlin salta leve, nas ondas verdes do mar de árvores da Mata Atlântica, bem aqui no nosso quintal.

Cada obra que faço, ou melhor, que se fazem por mim, pois a Arte quando visita, é cheia de caprichos e mandonices; então meus olhos deslumbram, minhas mãos selecionam materiais; - junta, costura, pinta, cola… Mas cada obra feita, abre um universo que me traga. Assim fui envolvida na luta entre o velho pescador e o marlin,
Sempre envolvido em conflitos, como a guerra civil espanhola, Hemingway está no “O Velho e o Mar”, obra prima, no conjunto dos seus romances, que lhe deu o Nobel da Literatura. […]dentro de sua arte, (Hemingway) realizou algumas páginas nas quais, uma experiência profundamente humana está transfigurada em palavras de concisão clássica”. (Otto Maria Carpeaux - História da Literatura Ocidental – vol. 8) No romance de Hemingway, “Por Quem os Sinos Dobram”, que virou filme, os versos do poeta Donne respondem: – “Eles dobram por ti.”



3.39.- ONÇA CAETANA

Foto Pedro Amora
Pintura 0.95 x 0.85

Do Romançal “No rastro do Rei Degolado sob o Sol da Onça Caetana” de Ariano Suassuna

Materiais: tinta acrílica sobre tecido; colar de coral africano; os dentes de Caetana são ossos de peixe; nos seios, contas vermelhas; colagens; casca de coqueiro nas asas do gavião…



3.40. - Anjo

O título original era "O Anjo que apareceu numa sacola de feira" .Mas era longo para um título, mas não longo para o que vou contar: eu estava com meu marido no supermercado; compra isso mais aquilo, isso não precisa, vamos devagar, mas..Vou comprar aquela sacola. " Mas prá que? De plástico verde limão.. Você não gosta de plástico e também não gosta de verde limão. E também é dificílimo você ir à feira." Tem razão. Mas estou vendo as asas de um anjo na sacola verde limão de plástico. Voltamos para a Chaminé Azul, nossa casa e meu ateliê. Comecei a trabalhar e, lá estava ele; não um anjinho rosado, de igreja barroca, não um anjo da guarda, de longa veste branca, guardando duas crianças à beira de um abismo, mas um anjo do nosso tempo, de conflitos religiosos, raciais, e muitos, muitos outros! Que ele nos guarde. Amem!!!