A CRIAÇÃO DO MUNDO EM CAROLINA WHITAKER



A maior surpresa é o que ela escolheu como meio. Procurou o imperceptível para criar metáforas. Cavou preciosidades sob nosso olhar distraído. Seus meios, seus materiais, suas bases, são julgamentos ilógicos que nos levam para uma nova experiência. Não são conceitos, a não ser aqueles que procuramos na comoção que nos toma a contemplação das suas jóias criadas. Jóias no sentido que a terra nos deu, através de suas mãos – gemas conceituais. Suas idéias programam os conceitos históricos. Qual século XVIII a inspira? Qual veludo abraça essas texturas? Ou seria a seda? Como tocar esse fátuo limite? Qual colheita secular nos trouxe essa conjugação de mortalidade e eternidade? Seu toque restaura e indica os caminhos do que estava finito, e ela os interrompeu. Aquele pequeno esqueleto, o que sobrou de uma fímbria, de uma concha, de uma tessitura ou transparência que o toque de outras mãos destruiria: como tu do isso se articula para sempre e se nomeia Belo? Essas peças criadas por seus olhos, mais do que por suas mãos, são uma homenagem aos primeiros dias da Criação? Esse léxico das texturas e das formas irreais, nos dá uma nova linguagem – e como classificá-la? São seres – essas peças de arte, que nos olham novamente, agora sob um novo sol. Há um novo hálito criado nos achados de uma mortalidade imperecível. Restos que se alçam para, conjugados cantarem um cântico novo. E então, as convenções da Arte são alteradas pelo próprio trabalho de arte. A artista não necessariamente interromperá sua reflexão e sua própria arte. Esperamos que nada impeça sua colheita amorosa, porque as criações se reproduzem generosamente nas plantações da beleza. Quando deixamos suas jóias, o sentimento que nos resta é o de que ela se adiantou a um sonho que não havíamos sonhado, mas que fortaleceu nossa aspiração de harmonia e transfiguração.

Cyro del Nero

Carta para o amigo que se foi:

Cyro, cada vez que releio sua apresentação de meu trabalho,fico comovida.Há sempre uma ressonância e, o que me resta é que você antecipou um sonho no qual eu, até então, não me via: me conceituou como artista. Te homenageio com minha arte, usando teus conceitos. Saudades.

[…] Cavou preciosidades sob nosso olhar distraido. Seus meios, seus materiais, suas bases, são julgamentos ilógicos que nos levam para uma nova experiência.”
[…] Não são conceitos, a não ser aqueles que procuramos na comoção que nos toma a contemplação de suas joias criadas. Jóias no sentido do que a terra nos deu através de suas mãos – gemas conceituais.”l
á
[…]Essas peças criadas por seus olhos, mais do que por suas mãos, são uma homenagem aos primeiros dias da Criação? Esse léxico das texturas e das formas irreais nos dá uma nova linguagem – e como classifica-la?”
[…] São seres – essas peças de arte, que nos olham novamente, agora sob novo sol. Há um novo hálito criado nos achados de uma mortalidade imperecível. Restos que se alçam para conjugados, cantarem um cântico novo. E então, as convenções da arte são alteradas pelo próprio trabalho da arte.”
[…]Quando deixamos suas jóias, o sentimento que nos resta é o de que ela se adiantou a um sonho que não havíamos sonhado, mas que fortaleceu nossa aspiração de harmonia e transfiguração”.

Cyro del Nero

Lagarto da praia

Foto Augusto Paiva

SOBRE O OLHAR
“A paisagem de fora a vemos com os olhos de dentro. […] Não vemos o que vemos, vemos o que somos”.  Angelus Silésius 1624-1677

ACERVO

EXPOSIÇÕES

“Coletiva –“ Mulheres na Arte”

SESC Jundiaí
2018

“Coletiva”

Galeria Slaviero/Guedes
2010

“Seres Oníricos ” – curadoria Cyro del Nero

Colomb Art Gallery
A convite da Embaixada Brasileira em Londres
2009

“Individual – curadoria Bettina Lenci

Espaço de Arte do Agente Cidadão São Paulo
2004
2000 – Spiro Livraria – coletiva “A Vaidade Feminina” jóias 1999 – Spiro Livraria – coletiva “Artistas Brasileiros na Literatura do Extraordinário” 1999 – Sociarte – Clube Sírio Libanês S.P. coletiva 1998 – Escritório de Arte Eduardo Fernandes S.P. – individual 1998 – Artistas Brasileiros e a Literatura – Spiro Livraria – coletiva 1997 – Sociarte – Clube Sírio Libanês S.P.- coletiva 1996 – Artistas brasileiros no Palácio da Justiça – Washigton U.S.A 1995 – Espaço de Arte em Ilhabela – “Coisas do Mar” – individual 1990 – Galeria do Instituto Yazigi -“Seres Extraordinários”-coletiva

TRAJETÓRIA

Artista plástica, faço arte no Brasil, ou ainda, na América, no sentido amplo; mas, como disse Mario de Andrade, […]acontece que sou brasileira”; e gosto de se-lo. Vivo integrada numa cultura com a qual, desde sempre estabeleci compromisso, sem abrir mão da individualidade. Para isso, paguei alto preço; mas valeu, porque fiquei livre para criar : pintura, escultura, adornos de cabeça ou de corpo, jóias e até embalagens… As reações variavam entre alegria – no caso das embalagens – ou inquietação, nas outras obras:
“Estranhos, né? , Que diferentes…!-  Pessoas próximas, sempre davam conselhos, seguidos da receita: – Carolina, você está dispersa; precisa procurar uma linha…  Que raio de linha era essa, já que tudo que eu fazia estava estreitamente ligado a minha expressão artistica?! Ou seria um rótulo tranquilizador o que faltava? Então, eu me voltava para os livros e para a música – grande esteio… e continuava criando. Numa ocasião, uma pessoa que admirava minha arte, falou de palestras que cenógrafos estariam participando; foi assim que conheci Cyro del Nero e foi este respeitado  artista cenógafo que após folhear meu catálogo atentamente, com uma frase,  -“Você é uma grande artista plástica”- fez o “caleidoscópio da vida”, finalmente fixar-se e me entendi como uma artista barroca/onírica.

Foto Helena Pelizon

 O sonho, porque faz eco ao mito, à lenda e ao conto; e acessando o reconhecimento da atitude onírica nas artes plásticas, compreendi a fusão onírico/barroco. Quanto ao barroco, me sinto totalmente à vontade para citar Julio Cortázar, na contra capa do livro de Lezama Lima, “Paradiso” 1968: “Que admirável coisa que Cuba nos tenha dado ao mesmo tempo, dois grandes escritores- (Lezama Lima e Alejo Carpentier) que defendem o Barroco como emblema e signo vital da America Latina : […] Lezama Lima, intercessor de obscuras operações desse espírito que antecede o intelecto, das zona que gozam sem compreender, do tato que ouve, do lábio que vê, da pele que sabe das florestas à hora pãnica.”
          Este signo vital que antecede o intelecto, na minha individualidade, sempre antecederam minhas reflexões. Assumo então o Real Maravilhoso, que abriga todo meu trabalho.

Atelie: Casa Da Chaminé Azul

Situado a 50 Km de São Paulo, em Jarinu,  no meio da Mata Atlantica, meu Atelie é uma das fontes da minha inspiração, pela riquesa da fauna e flora e a beleza de um lugar impar.


Email: carolwhitaker@uol.com.br